15 Mudança de Perspectiva

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Mudança de Perspectiva

Com o tempo, meu fisioterapeuta entendeu que já era hora de se começar a sentar numa cadeira de rodas. A novidade como qualquer outra que nos impõe mais sacrifícios e dificuldades não foi tão bem aceita. Como desculpa, a cadeira era menor, era isso, era aquilo... 
Sem choro nem vela, fui sentado na marra, tendo uma placa de PVC acolchoada para sustentar meus ombros e meu pescoço, sendo que uma atadura de crepom firmava minha cabeça a partir de um fita na testa. Repleto de travesseiros apoiando e protegendo meu corpo, assim ficando.   
Quando sentei, tudo estava relativamente bem. Vendo tudo por cima novamente. Porém, passado um espaço curto de tempo, comecei a ver tudo ficando preto na minha frente e o som a ficar mais distante, fazendo me sentir com que fosse apagar. A respiração vinda do respirador parecia que não era suficiente. Comecei a ficar desesperado, e lancei logo os beijinhos que dava quando estava em situação de risco.
Meu pai e meu fisioterapeuta rapidamente se voltaram para mim. Logo empinaram a cadeira de rodas para que o sangue se nivelasse no corpo rapidamente. Sentia o coração bater no peito na tentativa de empurrar oxigênio para todo canto do corpo.  
Enquanto ficava naquela posição, lá longe eu começava a recuperar o ânimo e a melhorar a percepção. A voz do fisioterapeuta parecia não querer cessar enquanto ele apertava meu nariz e minhas bochechas para que eu abrisse os olhos.
Meio sonolento, sentindo uma leve pressão na cabeça, abri os olhos vindo tudo a retomar às cores normais. E ao redor, tudo se recobrava à normalidade. E eu tentando entender o que tinha ocorrido.
Vendo meus olhos indagadores, meu pai foi logo explicando que, em razão de tanto tempo deitado, meu corpo tinha se acostumado à posição horizontal. Quando me sentei, o sangue logo desceu, fazendo cair a minha pressão arterial. Aquele quadro de quase perda de consciência, ele me explicou, chamava-se lipotímia.
O nome parecia não ter muita importância ali, e sim o que eu tinha acabado de sentir. Era horrível. Eu já não podia me defender e ficar sujeito a isso me deixou uma sensação de mais insegurança! Eu pensava: e se não tiver gente por perto? Uma ponta de pavor começou a me fincar.
Estava com medo de voltar à posição de totalmente sentado na vertical. Tudo parecia querer voltar.
Júnior, meu fisioterapeuta, logo foi me acalmando:
"Calma, Cláudio; o corpo acaba se acostumando! No início, é assim. Aos poucos, vai se habituando; cada vez mais. Quanto mais tempo vai ficando na cadeira, mais o corpo se habitua a esse novo posicionamento. Porém, tem que insistir. Vamos lá?!".
Respondi que sim.
Tudo de novo. Visão escurecida, sensação de viajar... Deitou novamente a cadeira de rodas. 
Naquele dia, tive vários episódios. Mas não deixei de tentar, até quando o tempo disse que pelo menos trinta minutos consegui ficar sentado, apesar de tantos altos e baixos. 
Compartilhando da ideia, para uma próxima sessão de fisioterapia, meu pai já tratou de providenciar uma cadeira de rodas própria, reclinável, para facilitar quando necessitasse da horizontalização. 
Quando entrou no Primeiro Estágio empurrando a cadeira de rodas, após a desinfecção, senti seu olhar de constrangimento, querendo explicar o gesto.
"Não é o tipo de presente que um pai queira dar para um filho", falou incontinenti, com a voz de chateação. 
"Oh, pai, eu sei que não, mas você está me trazendo uma coisa útil, para o meu bem-estar. Seu gesto é maravilhoso, de preocupação... não encare assim", falei em consolo.
Ele passou a mão na minha cabeça, como sempre fazia quando queria me adular.    
"Vou avisar o Júnior", disse mais animado, indo em direção ao posto de enfermagem ao fundo.
A partir daquele dia, eu passei a ficar mais tempo na cadeira de rodas. Ficava só pensando numa nova reunião com a galera, fazendo uma baita de uma surpresa: estando eu sentado, e olhando sem entraves todo mundo, livre de tanta coisa. Aquilo despertou um ânimo a mais no meu dia e na minha rotina. 

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