1 Prólogo
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Prólogo
Estirados ao
longo das compridas telhas de amianto, descansando e conversando assuntos
frívolos próprios de adolescentes, nossa siesta
nos refazia no intervalo do almoço, enquanto aguardávamos o início das
atividades do período vespertino...
(“Quando nascemos fomos programados... A
receber o que vocês nos empurraram... Com
os enlatados dos USA, de 9 às 6.”)
Era quando imaginávamos
mudar alguma coisa nesse mundo com nossas impressões tolas e vagas, impregnadas
de rebeldias sem causa fundada. Tentávamos aparentar ser o que julgávamos ser,
mas que no fundo não passávamos de reles filhos de pais de classe média em
Brasília estudando em escola de burguesia como nós mesmos. O nosso ar punk bramia sem muita sustentação.
(“Desde pequenos nós comemos lixo... Comercial e industrial... Mas agora
chegou nossa vez... Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês.”)
Do outro
lado da cerca, fazendo nossa vizinhança, um pequeno prédio feio de concreto que
se escudava com placas retangulares verticais emparelhadas ao longo de sua
fachada nos intimidava com a austeridade de sua vista externa espartana. Um
isolamento burocrático nos guardava de conhecer seu interior.
(“Somos os filhos da revolução... Somos burgueses sem religião... Somos
o futuro da nação... Geração Coca-Cola.”)
Da janela
para fora, a curiosidade enchia nossas mentes e aguçava nossos olhinhos, porém
não podíamos divisar seu real significado – ou talvez o que fosse mesmo não nos
importasse verdadeiramente. Eu mesmo, por vezes, me peguei sem querer reparando
e mirando sua fachada. E sempre com aquela mesma dúvida, que me fez perguntar pela
terceira ou quarta vez ao meu pai quando ao tomar o assento do carro:
– “Pai, o
que é Procuradoria Geral da República mesmo?”.
(“Depois de vinte anos na escola... Não é difícil aprender... Todas as
manhas do seu jogo sujo... Não é assim que tem que ser?”)
* * *
Que interessante! Estou tendo dificuldade em ler na sequência.
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